terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A polêmica nuclear na mesa do governo

O projeto nem sequer foi detalhado pelo Ministério de Minas e Energia. E só deve ficar pronto no próximo ano. Mas o governo do estado já mostrou interesse em abrigar uma usina nuclear no território pernambucano e iniciou as articulações junto ao governo federal para conseguir o investimento. A construção da unidade é estimada em R$ 10 bilhões. Seria, segundo os defensores do projeto, motivo para atrair empresas e melhorar a qualidade de vida da população. Os opositores veem por outro ângulo e engrossam as críticas antes de a União bater o martelo. Para eles, esse tipo de usina oferece riscos, e Pernambuco dispõe de recursos naturais, como o sol e o vento, suficientes para produzir energia mais limpa e segura. O debate começou."As conversas com o ministério estão evoluindo", revelou o secretário estadual de Recursos Hídricos e Articulação Regional, João Bosco de Almeida. Segundo ele, o governador Eduardo Campos (PSB) já falou com o ministro deMinas e Energia, Edison Lobão, sobre o assunto. E o Estado tem tratado do projeto com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), responsável pelos estudos que definem os lugares para se construir as usinas. Cogita-se uma ação conjunta de Pernambuco e Bahia, uma vez que o governador Jaques Wagner (PT) também demonstrou interesse no projeto. Entre as propostas figura a criação de uma central nuclear entre os dois estados. "Temos todas as condições de receber um projeto deste porte", diz João Bosco. Os pré-requisitos seriam a disponibilidade de áreas com pouca densidade demográfica e com água abundante, além de centros tecnológicos capacitados para oferecer consultoria e preparar mão-de-obra.O Ministério de Minas e Energia confirma os estudos e o plano para construir quatro usinas no país. Duas delas no Nordeste. Não detalha, porém, o planejamento da EPE. Na concepção do governo pernambucano, o melhor seria implantar a usina nuclear numa área próxima ao Rio São Francisco. O local ficaria longe do polo fruticultor,entre os lagos de Itaparica e Sobradinho. Aí, acrescenta João Bosco, o estado desponta com outra vantagem: a rede de transmissão de energia elétrica da Chesf, recurso que facilitaria o envio da produção para os grandes centros urbanos. Há quem defenda, no entanto, a instalação das usinas perto do mar, como técnicos da Eletronuclear. "Nossa região litorânea é focada no turismo", descarta o secretário estadual.Os ecologistas questionam a necessidade de usinas nucleares no estado. "Unidades desse tipo criam poucos empregos permanentes, geram lixo radioativo perigosíssimo e consomem enorme quantidade de água para resfriar o reator. Sem contar com o risco de graves acidentes", critica o presidente estadual do Partido Verde (PV), Sérgio Xavier. Os verdes sabem que a implantação de projetos como esses obedecem a questões técnicas e econômicas, mas passam pelo crivo político. Foi o que ocorreu na Alemanha, nos anos 90, quando o chanceler Gerhard Schroeder assumiu o compromisso de desativar as usinas do país até 2021. Tudo porque o chanceler formou um governo de coalização incluindo o PV germânico.Aqui, o partido não integra o governo federal nem o estadual, mas sabe que, a menos de dois anos das eleições presidenciais, o assunto pode entrar na pauta dos debates. "O Brasil poderia investir os bilhões em projetos mais promissores, como um amplo programa de incentivo à geração de energia limpa", completa. Os argumentos de Xavier são reforçados pelo o economista ecológico Clóvis Cavalcanti (leia entrevista abaixo). Para ele, a visão do governo é limitada. "Priorizar usinas nucleares é não reconhecer nossa vocação. O Brasil é um país com grande capacidade para produzir energia solar e eólica", salienta. Eles apontam como referência estudos que mostram que a costa do Atlântico, no país, tem potencial para gerar energia eólica três vezes mais do que as usinas nucleares planejadas pela União. O governo rebate e afirma que é muito mais cara a produção de energia a partir do sol e dos ventos e sem a mesma eficácia da hidrelétrica e nuclear, pois depende da estabilidade da natureza.

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